Meu luto


Hoje o som do motor não me embalou ao sono
Parece que estou em um dos meus dias tristes 
E decidi chorar em silêncio 
Pelo luto de mim. 

Lembrei da minha versão que te deu amor 
Com carinho e admiração, quase louvor 
Era tanto amor… não sei se eu já sabia 
Que cabia tanto amor 

Esse amor era tão meu 
Mas tão pra você 
E você bebia e sorria 
Quando eu te embebedava dele, de mim 

Choro solitária em uma poltrona de avião 
Num amanhecer estático
Escurecido por persianas plásticas 
Onde lembrei de um outro dia 

Desses dias em que estou dramática - como hoje
E disse para a minha analista 
Que não sou de tirar a minha vida 
Mas queria morrer natural, só um pouquinho 

Que eu sei que não vou morrer de amor 
Que ninguém morre de amor 
Mas morre sim 
Morreu no nosso adeus uma parte importante de mim 

Uma eu que eu amei 
Porque te amava 
Porque você me amava 
E que nunca mais vai amar igual 

Vai se amar igual
Vai te amar igual 
Vai me amar igual 
Vai amar… igual 

Não é só sobre amar alguém 
É que aquela minha mão 
Nunca mais vai apertar aquela sua coxa
Depois de uma corrida de 10km

Aquele meu baby doll preto 
Nunca mais vai fazer aquela omelete
Naquela cozinha, naquela manhã, naquela casa
E aquele café de Minas… acabou faz tempo

Não sei se choro por nós
Se te amaria novamente, igual ou diferente
Se te faria massagem sem medo
Ou se choro de culpa 

Por gostar das migalhinhas de conversa 
Que você me atira de vez em quando 
Como um velho só num parque 
Rodeado de pássaros-eu, famintos

Mas sei que choro de exausta 
De medo de rever a família 
De deixar apertar essas novas mãos 
Contra minhas próprias coxas doloridas

Viajo de casaco preto, de luto 
Pela mulher que me dei pra você 
E que se foi em lágrimas de sonhos
Sozinha, peito aberto, em aviões e quartos de hotel 

Hoje tenho sono não correspondido 
Quero dormir, mas o dormir não me quer 
O que tenho mais agora é fome, talvez 
E queria comer seus pés de abacate 

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