Caçadores de adeus


O que a gente mais teme é o que mais deseja
Temendo o adeus 
(Que eu sei que sempre vem) 
Me descobri buscando 
Quem não me amasse 

Amasse gostoso, um pouco 
Para dar o gosto do que eu perderia
As vezes de corpo, de mente, de alma 
Uma junta de dores conjuntas se juntando 
Num orgasmo carente e breve 

Que em breve vai embora

Por anos busquei estrangeiros
A desculpa era que eu seria uma princesa
Que deseja um príncipe de passaporte vermelho 
Que me resgataria de toda essa tristeza
Me salvaria do vazio da existência

Me levando para um novo mundo
De fartura e cores e estações demarcadas 
Verões com vestidos curtos e sorvetes
Natais com neve, presentes, presença 
Sem faltas, brigas, ameaças. Sem fome e sem choro

Mas só os queria porque eles tinham data de partida
E eu gostava de sofrer de adeus

Depois, plebeus de uma noite 
Tanto faz o nome, desde que se veja como é
Como eu descobri que sou 
Como um vagabundo Chaplin
Com seu trabalho repetitivo
Suas roupas e sonhos furados 

Que fosse algo promissor, se possível 
Vai que dura um pouco mais?
Nem rico nem prepotente 
Mas de certa forma, potente 
Em sua força para batalhar juntos os caminhos da vida 

Ou para pagar o jantar às vezes 

Mas fui me amargando, me desamando
Os não-finais foram doendo cada vez mais 
Os pequenos e grandes nãos
O caminhar sozinha, sem mãos para dar 
Sem afago de manhã, sem café 

Fui desaprendendo a me dar
Desaprendendo a pedir 
(Não sei se já soube pedir)
E me vi tão, tão só 
Que morei num amor de mentira 

Por meses, banhada nas águas frias 
De um mar que nunca amou ninguém
Me afoguei com outras mulheres 
Choramos juntas a nossa dor
Amarguei, sequei, morri algo importante em mim

Nem sempre foi assim
Não sei se um dia acreditei no amor
Mas várias vezes acreditei que era amada 
Que era amável, que estar comigo era bom 
Algo pelo qual valia a pena lutar 

Contra todas essas vontadinhas do corpo
Passageiras, esses desejos que desejam desejos
Até dos outros as vezes 
Essas invejas que nos fazem regar a grama verde 
Dos vizinhos enquanto morre a nossa 

E quando você apareceu eu te quis tanto
Eu queria tudo 
Entreguei tudo
Pulei mais fundo e mais fundo no meu medo de adeus
Me fundi ao cair, virei a queda do penhasco 

Sem perceber o quanto isso me afastava de você 
Eu te amei porque você me deixou cair 
Mas foi uma corda gostosa me abraçando
Quando bati no chão 
E escrevi nossa poesia a sangue  

Eu te amo ainda
Porque a gente caiu juntos 
E eu busquei no fundo
Pedrinhas de brilhantes 
Pra enfeitar nossa rua, nossa casa 

Estou escalando meu abismo (devagar)
Ainda na esperança 
De te encontrar lá em cima
Segurando a sua própria ponta da corta 
Para caminharmos de mãos dadas pela vida 

Sem adeus dessa vez 

Como vai você? 


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