Carpe dien, todo dia
Se ao menos o céu fosse amigo
E me desse vez em quanto
Um dia triste, cinza ou chuvoso
Como se fora fosse espelho de dentro
É insuportável não tentar ser feliz
Sob esse céu azul, diário
Que me arrasta pra viver, incessante
Um pé atropelando o outro devagar
Esse céu sob o sol me lembra
Que o mar de hoje só tem hoje
E que se eu perder, só tem outro amanhã
É só tem amanhã se tiver
Que a fruta hoje só tem esse gosto hoje
Que todos os dias eu posso morrer
Mas na maioria deles eu não morro
E até agora, nem sinal
Que ficar adiando viver
Não resolve a morte nem a dor
Só joga um pouco mais de vida fora
Que podia ter virado memória-combustível
Nos dias de braços enferrujados pra capinar
A força de virar páginas me alimenta
Mas até o branco do papel
Fica mais feliz à beira do mar
Assim, levo a dor pra passear
Pra ver outras dores, outras cores
Ver meu reflexo nos vidros espelhados
Uma lágrima furtiva turvando as ondas
Na vespertina caminhada até a ponte
De onde eu olho o contrário do mundo
E nunca pulo
Trabalho esse luto todo dia
Como quem capina um jardim
Retira as ervas daninhas
Vira e mexe vê nascer uma flor tímida
E sorri para o novo dia
De carpe dien como dá
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