Um beijo
Um beijo só
Um selinho que sela um acordo
O selo de uma carta de amor
De celibato pré nupcial
A distância que prevê o resto da vida
Um minutinho de mãos dadas
De dedos entrelaçados
Peles que se conhecem
Se eletrificam, estáticas
Digitais que se tateiam querendo mais
Desde o primeiro dia
Nunca fomos bons de namorar
A gente não é de caso, é de casar
De montar casa e marcar mudança
Rabiscar altura de furo na parede
De cobrir o outro com colcha
Quando o vento entra frio demais
De acordar junto, quente, puxando a coxa
O gosto de corpo quente
O cheiro de café, quente ou frio
Um abraço apertado contra a pia
Onde eu lambia as gotas do seu banho
Sentia sua vontade matinal
A gente se mordia e se separava, rindo
Inseparáveis
Você diz que eu tento resolver tudo na cama
Eu te imploro que me entre e me atravesse
Porque o corpo é o único ponto
Onde o seu mundo toca o meu
E quando eu não te sinto tenho medo de esquecer
A gente foge de sofrer demais
Mas não dá pra fugir de sentir, de sonhar
Esse desejo furacão que nos bagunça
Leva também as ervas daninhas
Pra gente poder plantar outra safra de amor
Nosso terreno ainda é fértil
A terra do amor é revolta, revoltada, terremota
Mas não se compra casa na paz
A última vez que se teve paz foi no calor do útero
E a próxima vai ser no frio do túmulo
Comentários
Postar um comentário