Mé(tó)dico


Três meses de vida
Três exatos, sempre ele acerta
Já disse seis pra um, dois pra outro 
Nunca errou mais de um dia

Pacientes terminais são os melhores
Eles obedecem como podem, vivem o que dá
E quando chega a hora 
Se a morte não veio
Eles aparecem para reclamar 

Eu podia ter vivido mais! Amado mais!
Viajado mais um dia, amado outra vez
Minha amada, minha amante  
Tomado outra dose, outro trago 

E sempre nessa catarse caótica
No último grito da pulsão de vida 
O médico os leva assim, de supetão 
Com uma respiração de gás silencioso 
Um veneno no gole, na balinha, no palito

No aperto de mão, o último beijo da morte
 
Missão cumprida 
O destino mais desejado 
De todas as pulsões 
A única promessa que sempre se cumpre 

Dois dedos medindo o último pulso 
Que alívio sente o doutor, que orgulho 
Mais uma data acertada
É o final da gritaria

Todo o cadaver é calmo 


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