Luz acesa, janela da alma


Na via deserta 
Dessa vez fui eu quem pediu
Para pegar a última rua, a direita
O seu rumo era o caminho certo

Na ida estava escuro
Mal deu pra distinguir as janelas velozes 
Pensei se já tinha aula, se atrasou
Ou se um café com estranhas durou demais

Na sala de pulsão e seus destinos
Não deixo de pensar no nosso 
Nas repressões, nos recalques 
Na nossa vida muito além do princípio do prazer 

Me aceitando na posição de não saber 
Se fui amada, se sou, as janelas brilham na volta 
Não sei se é chama acesa ou luz fria 
Se ilumina outros cabelos 

Não sei nada
A escola não me ensina a viver
Nem a ver pra onde segue o fluxo vital
Mas ajuda a desviar da pulsão de morte

A mais sentir
Sentir pra mim o amor que era seu
Voltar pra mim, em luto, colocar em uso
Para escrever, para me conhecer 
Será que gente ainda se reconhece no escuro?

Me escuto
Hoje sentei no divã, olhei pro teto
Não quis abrir meu coração para óculos de analista
Olhei nos meus olhos da alma e chorei pela última vez 

Te esqueço?
Talvez um dia, mas não hoje 
É cedo pra saber
E pra variar eu não quero 

Te mato?
Um amigo sugeriu que te matasse 
Em fantasia, em análise. Eu ri
Não sei matar ninguém, meus amores morrem de velhice

De véspera? 
Foi assim que morreu o seu?
Com medo de dar tudo tão certo 
Mas tão certo que pareceu errado?  

De atravessamento 
De tiro bem certeiro, de corte
Nas veias abertas por onde pulsei você
Me banhei e me esvaí

Volte
Mas só me derrame
Se me couber 
Ou se me beber 


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