Fazendo amor, sem amor


Todo o amor nos ensina a amar 
Aprendemos coisas boas ou ruins que viram nossas
Mas tem coisas que ficam depois do fim só para nos confundir

Pra mim, o pior que ficou não foram as coisas no armário 
(Ou talvez eu diga isso porque elas não estão mais lá) 
Mas o não dar nem receber 
Separar o prazer do amor do prazer do corpo 
Gozar com qualquer uma para manter o amor inventado por si, pra si 

E o pior é que ela não ensinou sozinha 
Você teve várias mulheres que te proibiam 
Afastavam ou controlavam 
E a gente aprende melhor o que dói que o que apraze 

Teve a que parecia um cadáver
A que não tinha libido e te tinha na mão 
A que dizia pra outro que ele era melhor 
E finalmente ela, que te dava por obrigação
Brigava quando seu gozo raro demorava 
Não sabia amar de corpo nem de nada 

Pra você não dava 
Mas aaaaai de você querer controlar pra quem ela dava 
E no acúmulo, você desaprendeu a fazer amor
Aprendeu a comer quando tinha fome 
E a inventar amor casto que não enchia barriga  

Essa relação telaplanista, de fé cega 
De você com a sua imagem refletida na tela
Acreditando que o seu mundo era melhor 
Com ela mas sem ela mas com ela um dia
Láaaaa no futuro, lá longe, mas já já 
Uma relação de perfeição no altar
De um futuro cheio de bençãos 
De confessionário on-line 
Penitências de joelhos
E travesseiro frio

Não dá pra competir com uma santa
Que nunca foi santa   
E eu nem deveria ter tentado 
Sou carnal, falha, talvez fálica demais 

Não vejo futuro pra nós sem a missão 
De recorporificar nosso prazer
Sem você descer do altar 
E largar desse petisco de pré-prazer perfeito
Que finge gozar melhor sozinho
E goza nunca  

Farto e frustrado 
Quando cheguei, já não sobrou apetite pro amor 
Amar até me amava, sim
Mas economizava no dar amor, no fazer 
Tinha preguiça de mim
Como um Édipo de verdades reveladas 
Ao ver que, por mais que corresse
Não fugia do destino solitário do ser 
Se cegava pra não ver
Que todo o gozo de amor vem a dois 

Não entendeu que não sou opção, sou escolha
E me perdeu 
Sujeito é aquele que escolhe
E escolher é morrer um pouco 

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