Dobras
Te pego e sinto seu cheiro
Celulósico e amadeirado
Abro suas páginas como duas pernas
Sedenta, ansiosa e apaixonada
Às vezes receosa e contida
Passo os dedos por suas linhas retas
Suas letras miúdas, sua capa
Em excitação viril e decidida
Te esfrego a caneta em aspas esparsas
Marcando como à ferro, à tatuagem
As notas que me anotam na alma
Os trechos que me tocam a mente
Mentiras de outros loucos
Pensadores, contempladores
Doloridos como eu
Cruel, talvez? Insaciável
Como amante voraz
Te dobro os cantos
Te marco as bordas
Transformo a forma
Te aumento o volume
Como com volúpia, te embarrigo
Para alguns, marcar um livro é um crime
Para mim é como escrever nele
Uma segunda história
Um conto de orelhas que ouvem
De amor, de gozo e de adeus
E lhe dar vida própria
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