(Des)confiança
Hoje descobri que confiei
Confiança é a habilidade que se ensina
Para crianças pequenas
De sair e provar o mundo
Sabendo que tem um lugar pra voltar
Confiei demais, parece
Confiei que podia ir voar e voltar
Que podia ler ao seu lado antes de dormir
Que podia estar na cozinha fazendo café
Que mesmo sem te ver, você estava ali
Quanto mais eu confio no ambiente
Mais eu sei que posso ir
E tenho você pra voltar
Mas quando você foi, não voltou
Acho que eu confiei e você não
As vezes desconfio
Que ainda te quero só porque você não quer
Que você só a quer porque ela não quer
E ela só não quer porque não existe
Eu confiei tanto
Que nem desconfiei
Que esse a gente um
Sempre foi dois
Transitivei meu afeto
Transformei tudo em nós
Eu sofri porque você sofria
Mas sofri e você nem viu
Pensei que te ouvir te curava
Só me machucava e te lembrava
Do que você nunca esqueceu
De quem até se foi mas você nunca deixou ida
Você simpatizou até deixar de simpatizar
Até perceber que eu não sou você o suficiente
E que não estou muito a fim de ser
Até saber que gosto é de ser eu com você
Esse seu ideal de perfeito entendimento
Não tem como existir porque você
Nem é perfeito nem se entende
E eu gosto é do sabor doce do seu caos
Dois ressentimentalistas
Fechados nos nossos (des)afetos
Novas palavras não apagam nem escrevem
Ninguém mais lê nem entende nem se importa
Ressentidos um do outro
Sentindo sozinhos vez por outra
Revendo o que foi bom
Revivendo o que foi mal, mau, meu
Cegos mirando o fim do túnel
Sem saber se lá vem o sol ou um trem nos resseparar
Sabendo que não há mais nada
Nem sol, nem trem, nem túnel, nem fim
Entre o medo e a angústia
Nascemos e morremos ansiosos
(Des)sentindo saudades
Pensando demais, fazendo nada
Vivendo cada dia sem sentir, sem sentido
Sou (melhor) onde não penso
Comentários
Postar um comentário