O lagarto e lagarta


Era uma casamenteira preguiçosa 
Diversas promessas e sonhos sobre a mesa
Embaralhou os perfis como cartas de baralho 
Jogou pra cima como cartas da Xuxa

O Lagarto, ela pegou
Gostava de se embrenhar pelas plantas
Os pés firmes no chão, subia em árvores 
Para ver tudo que que tinha no mundo tão grande
E de volta se insatisfazia com a própria pequenez 

Sonhava com um ninho e ovinhos
Mas só era feliz andando por aí, sozinho 
Queria tudo ao mesmo tempo
Mas só o que faltava o faria pleno 

Não é difícil esse, pensou a casamenteira 
É só lhe dar o que falta e vai dar certo
Ela precisa pôr ovos e lagartear
Saber rastejar por baixo e também gostar de altura 

A Lagarta! pensou
Conheço essa Lagartinha com fome de mundo 
Vive aqui no chão mas tem sonhos de altura
Certeza de que esse amor vai lhe fazer voar 

O Lagarto e a Lagarta
No primeiro encontro… a estranheza 
Ela bem devagarinha, ele correndo
Olhou com fome mas ela não tinha medo 
Gostava das diferenças entre os dois
Ele tinha garrinhas, mas seu olhar era doce 

Ele correu logo a dizer tudo que queria 
Em lista, como uma entrevista 
Imaginava o futuro porque o hoje não bastava
Nunca estava aqui, sempre no ontem ou no amanhã 

A Lagarta olhava e sorria
Agradava essa ligeireza dele
E foi se achegando no seu passinho lento
Fazendo uma casinha do seu lado
Cozinhando esse amanhã bonito dentro de si

Ele logo se irritava e se afastava
Só via a Lagarta comendo em sua lentidão 
Não via quanto havia crescido, avançado
Não aguentava esperar pelas asas 

A ela aprazia ver a corrida dele
Ouvir o que contava da vida
Mas doía a distância, não conseguir acompanhar 

Ela não sabia que o que ele gostava era da falta 
De reclamar por não ter paz procurando briga
Ele corria pro passado, pro futuro…
Ela ficava tão sozinha

As lágrimas da Lagarta a derreteram
Em seu casulo, cada gota virou poesia 
Quando abriu as asas e ele nem viu
E ela voou pro futuro sem mapa ou destino

Isso sim é incompatibilidade 



Comentários

Postagens mais visitadas