Casamento por conveniência
Fui na casa de amigos antigos
Gente que eu vi uma vez ou duas na vida
Mas entrou com bagagem e tudo na minha
Nunca mais saiu
Que casa bonita, que caso de amor
Olhei pra eles e vi um futuro nosso diferente dos planos
Sem filhos. Não sei se por querer ou não.
Eles só tinham a eles e esse amor conveniente
Para minha surpresa, gostei.
Eles trabalham em coisas diferentes
Fazem viagens sozinhos e juntos
Vão ao cinema e ao teatro quando cabe a cada um
Aos sábados estudam francês
Gostam de muitas mesmas coisas e de tantas outras não
Eles não completam a frase um do outro
Ela fala mais, mas ele parece gostar
Dizem coisas boas entre si sem desconforto
São um abraço de almofadas sem farpas
Os outros casados que conheci não eram desses
Parece que queriam casamentos inconvenientes
Parceiros inconvenientes
Pra ter de quem reclamar no almoço dos amigos
Falar dos filhos insuportáveis, insubordinados
Do pai deles que só reclama e não faz nada
Da mãe que repassa a culpa de tudo
Dois em um que fazem pouco ou nada pela paz do outro
Percebi que o que eu quero é isso que vi
Sentar do seu lado com leveza no olhar
Vamos convidar amigos
Abrir a geladeira cheia de queijos e vinhos
Falar dos filmes que vimos juntos e separados
Das viagens que a gente foi e que eu fui sozinha
E que você foi com a mãe, os colegas de doutorado, ou pós
Sem nem pensar em qual vinho tomar hoje
Abrimos uma garrafa de cada raça
A gente se ama em sorrisos breves
E leves toques nas costas da mão
Ninguém briga por lavar a louça
Porque todas as taças vão pra máquina
É estranho pensar que gosto da gente tão leve
Que queria falar mal da gente
Mas só muito raramente, pra minha analista
Quando quiser desviar a atenção de mim mesma?
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