Ato falho



Levei essa semana pra análise
Uma estranha recorrência que mencionei outro dia 
Dei pra, pensando em você
Te chamar mentalmente pelo nome do meu ex marido

Que ato falho mais perigoso é esse 
E percebi agora que já fazia isso até antes
Mas ignorava, já que há muitos anos não sinto mais nada
Não reconheço nem o rosto dele na rua 

Coloquei tudo pra fora nessa tempestade 
Uma chuvarada de coisas parecidas e diferentes
Que amei e que odiei e que idealizei nos dois 
Mas a conclusão da sessão foi bem mais simples 

Sabe, meu casamento não tinha nome
Mas era casamento
Não teve festa, mas era casamento
Não teve filhos, mas era casamento 

Pois tinha amor
E ficar junto era a coisa mais natural do mundo. 
Tá aí o nosso (un)heimlich
 A gente tinha amor (ou tem?)

A gente não tinha nome (mas era casamento)
Não teve festa (mas era casamento)
Não teve filhos (mas era casamento)
Não teve casamento

Mas a gente casou de cheiro
Casou de café fresquinho (mesmo meio fraco)
Casou que eu fazia o ovo frito diferente do seu, mas você comia 
E demorei mas aprendi a fazer o pão que você gosta 

A gente casou de trocar lençol de algodão 
E de esmagar minhoca no lixo
Casou de regar as plantas (e de esquecer)
De mandar fotos das borboletas 

E por causa de tudo isso eu não consigo
Ver você como un ex namorado ou flerte qualquer 
E te dou insconsciente o nome de um amor de dez anos
Mesmo que o nosso tenha vivido um só 

Quando te dei o título de não-namorado
Não percebi que nos abriguei num não-casamento 
Vestindo a sua não-aliança 
No dedo não-anelar 

Eu só quero pegar toda essa negação
E lavar e esfregar no tanque
Até que todo o não-entendido fique claro
E você peça minha mão ensaboada de uma vez 

Com quantos nãos se faz um sim?

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