A regra injusta do amor


Um dos dois sempre ama mais
Essa é a regra injusta do amor
Tem gente também que se economiza
Que ama muito mas não se entrega

Mas amor não é poupança
É leite fresco, doce e cremoso
E não importa quanta fome de amor se passou no passado
Nunca mata a sede amor guardado que azedou 

Sentimento engarrafado amarga
Amarga a boca do dono
Sai vomitado aos solavancos
Soterra quem recebe como avalanche 

Como uma bomba de amor
Que cobre tudo desse pó rosa brilhoso
Quem recebe fica logo rosado também
E não sabe pela cor onde é um e onde é outro 

Os olhos colam com esse filtro rosa-amoroso
Mas logo o vento leva a poeira
Só quem fica vendo amor por todo o canto 
Não percebe que o amor é cego

Amor vira fome também
E quem viveu esse começo explosivo 
Acredita que tudo aquilo vai voltar
Que essa economia de amor é só recessão temporária 

Infelizmente, as vezes é guerra mesmo
Guerra do eu contra o eu
A bomba de amor vem de zona de conflito
É fogo amigo mas mata igual 

No meio dos escombros
As vezes brota uma flor, rosa 
Que da esperança de reconstrução
Diz baixinho que o esforço vale a pena 

Mas pra que amar se a gente sofre desse jeito?
Pra que insistir em continuar amando em zona de conflito?

Porque o novo amor nem sempre é incompatível com a gente
As vezes só é incompatível com o outro amor que já se foi 
E a gente estranha essa nova cor, gosto, cheiro e o tom de voz 
Mas vale lembrar que nem sempre gostava de tudo isso no que deixou adeus também 

As vezes o incompatível é o luto 
É o espaço de substituição 
Assimilar e conter o que foi bom do que veio antes 
Mas também deixar ir pra caber quem chega  

Luto é luta também 
Mas não contra esse novo amor que nasce
É contra si, contra tudo pra que se deu valor antes
Contra essa vontade louca de nuncas
Nunca esquecer, nunca deixar cicatrizar, nunca trancar a porta, amar nunca mais

Mas se gente não consegue deixar de aprender 
Quero aprender a aprender junto
A desaprender esse amor avarento, infantil
Que se dói de voce gostar de qualquer coisa que não seja eu 

Não dá também pra voltar como era
Virar uma masoquista amadora 
Abraçar seus espinhos e me rasgar inteira
Fingindo pra mim que faço isso por você 

Escondendo também os meus
Espetando somente onde rasga
Nas suas pétalas vermelhas, seus pontos macios
Revelando ciúmes ocultos afiados 

Amemos melhor
Um novo amor, reinventado 
Esse que comporta e suporta um momento de separação
Pra que cada um cresça um pedacinho 
Que nos encaixe melhor no final 

Nenhum de nós deseja ou merece
Ser prisioneiro de um inferno amoroso
Com quatro paredes apertadas
De onde ninguém pode nem consegue sair 

Amar é ginástica pra alma, recomendação médica 
É pra deixar a gente mais produtivo
Dar aquele quentinho quando leva bronca do chefe
Porque sabe que tem um abraço gostoso em casa 

O difícil é manter esse ponto de paz
Que a gente teve e voltou umas vezes
Passou do ponto, andou de ré, caiu um monte
Amor é essa gangorra que nos junta e nos separa 

Com você, gozo e desejo coabitam 
Em gosto e gesto, juntinhos só por um instante
E essa minha bagunça toda de palavras 
As vezes parece amor também 

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