Todo o dia é dia de poesia

 

Tá difícil segurar os dedos 
A mente não para de pensar em nós 
(inclusive de mentir pra mim)
E a vida tá lenta demais pra acompanhar 

Foi um ano tão grande e de tanta coisa
Que eu levaria dez pra descrever
Uma série maior do que Game of Thrones
Com mais camadas de sonho que Inception

Foi mesmo um ano de cinema
Uns diálogos meio Woody Allen
Uns delírios meio Tim Burton
Até reviravoltas clichês como Comer, Rezar, Amar

E pra me distrair eu prendo os olhos na tela
Vendo coisa nenhuma, sem som
Porque nada tem tanta graça
Quanto o roteiro improvisado que a gente criou 

Eu alongo mais, aumento os pesos
Leio e durmo e como e decolo e pouso
Segurada por linhas invisíveis
Sendo minha próprio titereira

Na correria autômata dos Tempos Modernos
A cara de choro escondida na maquiagem tão pesada
Quando a cabeça do Frank, que era genial
Mas também só queria ser amado 

A gente nunca terminou de assistir Divertidamente
Mas viveu e riu e bebeu divertidamente 
E agora eu escrevo assim, inadvertidamente 
 
Prolongando esse adeus e o trocando
Por uma oração de bom dia
Uma promessa de amor criativo
Que escreva eu te amo todo dia na pele

Sabe, eu virei muitos filmes 
Que queria assistir com você 
Por isso deixo essas cartas
Como a caixa preta que explica a nossa queda 

Escrevo esse mapa da minha cabeça maluca
Que entendeu Freud todo errado
Porque esse é o meu sinal de SOS
Uma oração pra resgatar meu coração náufrago 
 
É que as vezes, no mesmo dia
Eu acordo querendo morrer
Almoço querendo correr
Janto querendo chorar
E durmo querendo te amar
Nem que seja só mais mais um take

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