O infinito de nós dois

Todos os dias em seu céu ela sorri ao ouvir a canção 

Que ela um dia cantarolou em seu ouvido no escuro 

Que o Jardineiro poeta disse que era bela, que era tão dela 

Que nunca mais ouviria sem lembrar

E esqueceu


Se você quer ser minha namorada

Ah que linda namorada você poderia ser

No som do carro, a estrada ganha cores, prismas

Grandes olhos de gato, como faróis 

Pés descalços, coração desritmado

Felicidade de mãos dadas


De canto em canto, de conto em conto 

Por cada canto de cada casa

O verde se multiplica

A paixão, fagulha da chama dos deuses, a Deusa

Decola em suas mãos e vira céu, nuvens

Sem flutuar antes de cair, ensina a voar

O amor mais puro e inteiro e entregue


Caminham juntos por todos os cantos, dedos, costas

A língua que dá voltas pelo mapa

Magia em mil tons de areia, marés e mares, falésias

Danças noturnas, retratos, sussurros

Dois corações despidos e trôpegos à caminho da lua 


Vinho e beijos, mais doces em seus braços 

De grão em grão, de gole em gole

Ele lhe deu o amor que era só dela

Na nova aventura indizível

No infinito de nós dois


Portas abertas, passos e ecos

E talvez o meu caminho seja triste pra você

A casa avisou que a paz não dura

Como doce em boca, ele beija e arranca

Dela, o amor demasiado ainda sufoca

Dois corações tementes a Deus e a morte


Não basta ser boa

Não basta ser bruxa

Não basta ser deusa

Não basta ser sua

Se fosse boazinha…


Portas trancadas

Já não há fantasmas sussurrando seus defeitos

São os ecos dos vivos, dos medos

Sob julgo do júri, o castigo no calor é o frio

Entre tantos fantasmas é Babau quem teme 


A Bruxa testa a porta mas não abre

Ele deu amor mas perdeu a chave

Seu amor numa vitrine, ela olha sem tocar

Não há valor no mundo que compre

Bonequinha de Luxo na porta, pérolas ao chão

Um perfume, uma lágrima


E chorar bem de mansinho sem ninguém saber por quê 

E chorar violentamente, aos soluços, aos solavancos

Se não fosse respondona…

E se o grito é a chave de um coração trancado?


Por dentro, dilacerado, destroços de um bombardeio

Em seus escombros, pedaços de sonhos

Olhos de criança

Ah… seus olhos

Vitrine da alma, eles sim de portas abertas


Ele assiste em silêncio seu espetáculo 

Sabe que esse amor é parte da sua teimosia 

Do meu show, meu amor…

Ela teima em acreditar que amor é vontade e escolha

Que ela nunca foi de desistir, e nem ele

Que a vida só se dá pra quem se deu


Dois guerreiros que só querem a sorte de um amor tranquilo

Com sabor de fruta mordida, semente plantada

Ser teu pão, ser tua comida 


Ele, exausto, esconde seus olhinhos de infinito

Se só por hoje, dorme em seus braços

Nos teus braços o meu ninho no silêncio de depois

Dorme abraçada em sonhos, ele é o seu sonho

Um sonho exausto e sem rumo


Nunca lhe quis tirar o prumo, é que nunca teve

A Deusa criadora de mundos

Quer criar um mundo só seu

Com seu amor, só dela, fez seus pontos cardinais 

Ainda sem norte, se perde às vezes a bússola de mãos carinhosas


Em suas terras férteis, pés de abacate

Jardins de sonhos e urtigas

Garrafas bebidas que brotam flores

De sabores, sonatas, às vezes de brigas


Quem sabe um dia, no sétimo dia 

Em seu mundo criado, incrédulo, o descanso. 

O alívio no silêncio de depois

A estrela derradeira é o eu te amo

No infinito de nós dois.

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